Ele esquecera o aniversário de namoro de ambos.
Também esquecera no ano passado.
Para falar a verdade, ele nem conseguia mais se lembrar de quando estiveram separados.
E dizer isso sobre uma garota é um bocado importante.
Mas, nesse ano, ele resolveu não repetir aquele discurso “datas não são importantes, o que sinto por você é o que vale”.
Embora saibamos que isso é verdade, aquela conversa não funcionou muito bem antes.
Dessa vez, ele resolveu fazer uma música.
Não uma música qualquer.
Uma música para ela e sobre ela, exclusivamente.
Como uma musa, ele a cantaria em todas as cores, curvas, versos e cabelos cacheados.
Colocaria no papel aquela soma de coisas que sempre o fazia sorrir ao acordar.
Então, ele escreveu.
Sem medo dos sentimentos que todos escondemos dentro de nós mesmos, ele escreveu.
Não demorou muito – evidentemente, ele não era Leonard Cohen, mas falava sobre algo que conhecia bem.
Eles estavam sem se ver desde a saída com os amigos no aniversário de namoro.
Tudo bem, sempre há as canções de amor.
E a que ele escreveu era uma desse tipo.
Como sempre, ele estacionou petulantemente o carro nas duas vagas da garagem.
Subiu.
Bateu na porta.
Ela abriu.
Vinho e taças novas.
Coisas que sempre funcionam para começar bem uma conversa.
Então, ele leu a música.
Depois pensou, “Se eu fosse uma garota, tiraria a roupa agora mesmo!”.
Mas ela não.
Ela disse que gostara, pegou o papel com a letra, dobrou e colocou em cima da mesa.
Naquela noite ela ainda tiraria a roupa para ele, mas algo naquele momento mudou.
Naquele dobrar de papel, ele pôde enxergá-la com óculos de grau.
Só depois ele entendeu que sua amada jamais se emocionou com qualquer canção.
Nem com Sinatra em In The Wee Small Hours.
Ele deixou de amá-la nos dias que se seguiram àquele.
Simplesmente ela não inalava o perfume que a música trazia para a vida.
Na sua cabeça de músico frustrado, aquilo era inegociável em uma relação.
Então, assim de repente, um mês após a música de amor, o amor se acabou.
Ela nunca entendeu.
E como o Dylan de Idiot Wind, ele não dava a mínima.
Postado ao som de The Stranger Song – Leonard Cohen